104%! Quem será o próximo?
Os riscos da guerra comercial entre os EUA e a China estão aumentando de forma vertiginosa, pressionando fortemente o S&P 500, que continua a recuar. E isso ocorreu logo após uma abertura forte e uma alta intradiária de 4%, impulsionada por rumores de que a Casa Branca estaria disposta a negociar com outros países — exceto com a China. Donald Trump deixou claro quem é seu principal adversário, e a disposição de Pequim em levar o conflito até o fim tem causado apreensão entre os investidores do mercado acionário americano.
Quando a Casa Branca impôs uma tarifa de 10% sobre as importações chinesas e depois adicionou mais 10%, a China manteve o silêncio. No entanto, o anúncio de um adicional de 34% ultrapassou os limites. Pequim respondeu de forma simétrica, o que enfureceu Trump, levando-o a ameaçar um aumento adicional de tarifas em mais 50%. A sinalização de que o governo dos EUA realmente avançaria nessa direção foi o gatilho que derrubou o S&P 500.
Receitas tarifárias dos EUA
Segundo o secretário do Tesouro, Scott Bessent, os Estados Unidos esperam arrecadar cerca de 600 bilhões de dólares no primeiro ano de implementação das tarifas. No entanto, uma análise da Bloomberg sugere que esse valor provavelmente será, na melhor das hipóteses, a metade — e tende a cair à medida que as importações americanas encolhem em um terço por causa das tarifas.
Os supostos benefícios do protecionismo parecem insignificantes diante da disrupção nas cadeias de suprimento, da desaceleração do comércio global, da queda do PIB mundial, do enfraquecimento da economia dos EUA e do aumento da inflação. O mercado de ações tem enviado um sinal claro de que os riscos superam os possíveis ganhos. A recente queda do S&P 500 reflete uma mudança drástica no sentimento dos investidores — da negação da recessão para uma crença súbita de que ela está iminente.
A última pesquisa da AAII (Associação Americana de Investidores Individuais) registrou o maior número de investidores pessimistas desde março de 2009 — antes mesmo do chamado "Dia da Libertação" da América. Portanto, o mercado pode estar a caminho de estabelecer um novo antirrecorde. Ainda assim, qualquer tentativa de comprar o S&P 500 apenas com base nesse sentimento extremamente pessimista pode se transformar em um "rali dos tolos". Vimos algo semelhante em 2008, no auge do VIX, quando o índice amplo subiu 20% entre outubro e novembro, apenas para despencar 25% nos quatro meses seguintes.
Dinâmica do rendimento dos títulos dos EUA
Ainda há espaço para queda no S&P 500, e um possível aumento nos rendimentos dos Treasuries pode ser o próximo gatilho para uma liquidação mais ampla. Os rendimentos têm oscilado à medida que os investidores tentam antecipar os próximos passos do Federal Reserve em um cenário de estagflação. Paralelamente, a disposição da China em intensificar a guerra comercial eleva o risco de que o país comece a se desfazer de títulos da dívida dos EUA — o que poderia pressionar ainda mais os rendimentos para cima. Taxas mais altas seriam mais um prego no caixão do índice de ações mais amplo.
Do ponto de vista técnico, o S&P 500 mantém sua tendência de baixa no gráfico diário. Um rompimento abaixo do nível de suporte em 4.910 justificaria a manutenção ou abertura de posições vendidas iniciadas na zona de resistência em torno de 5.200. Por outro lado, uma recuperação a partir do nível atual daria margem para a continuidade da estratégia de compra nas quedas do índice.